Dentro do tracejo poético regido por Eros: o (mal)dito desejo nas mãos de Adélia Prado
Palavras-chave:
Poesia contemporânea, Erotismo, Psicanálise.Resumo
Não obstante o circuito de interditos arquitetados pelos preceitos (i)morais da religião judaico-cristã, a castidade de monges e freiras claudicaram, amiúde, frente aos próprios imperativos eclesiásticos que, em certa medida, incentivaram os rituais, nas quais a sensualidade dos corpos era uma constante. Posto isso, o erotismo encarna dois componentes emblemáticos – o sublime e o grotesco – aparentemente opostos, que se suplementam em favor de um gozo. A antítese, aqui, é por localizar o desejo entre o sagrado e o profano, entre o efêmero e a eternidade, entre o tabu e a liberdade. Nesse corolário, os itinerários do erotismo, ao longo da história, percorreram veredas do divino, do profano, do proibido e, assim como, da transgressão. Este, no que lhe tange, é a lenha na fogueira do erótico, uma vez que a violação concede valor aos prazeres “carnais” e (des)amordaça o sôfrego irrefreável do sujeito. Logo, pelo viés literário, a quebradiça malha de (im)pureza que involucra a carne é rompida pela transgressão da palavra e ocorre, concomitantemente, o delito da alma. Sendo assim, debruçar-nos-emos sobre a copiosa seara erótica de Adélia Prado, cujas mãos, (im)puras e engenhosas, forjaram uma lírica libidinal onde o sexo recupera sua natureza subversiva e contestatória. Em tal cunho, os poemas mais abscônditos vêm à lume, transvestindo-se de uma linguagem sensual e obscena, atravessada, obviamente, por raízes eróticas. Para tanto, investidos pela palavra psicanalítica, recorreremos à aportes teóricos que dialoguem acerca do desejo, dos prazeres e, bem como, do erotismo.
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